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versejos livres

versejos livres

28
Ago07

a moldura do sol

Lino Costa

escrevo-te ao rosto

que vi nos volteios do sol

nascente, p’la manhã

com um sorriso para mim

 

escrevo-te, sim, escrevo-te

porque me explode do peito

um mundo azul

 

e eu sei lá, nem pensei

senti poesia

no corpo imberbe

estremecido

 

nem sei o que fazia

tantas vezes que te quis ver

tão fulgente naquela estrela

 

também era amor em saudade

mesmo tão longe

te recebi ainda quente

num raiar exagerado

 

a ti, tão chama perfeita

tão linda e mulher

hoje p’la aurora menina

28
Ago07

antes da tua luz

Lino Costa

cito à distância

dois densos minutos de amor

longos, ao ventre da vida

que não sabe o que é o mundo

 

digo o poema

infantilmente, escrito, azul

a um sorriso, teu, sem palavras

 

e pinto um quadro

do céu, com o brilho inesgotável

dos teus olhos. Da tua pele

tece-se a seda, da existência pretendida

 

canto, contigo no pensamento

entre as cores d’hortenses, roseiras bravas

o céu e a seda, que dás de ti

 

vem que te protejo, que me dou por ti sem pensar

que eu e quem te traz pelo regaço

somos um elo de sentimento profundo

tens quem te valha um preciso

 

nasce, que te erguemos ao existir

cresce, que te mostramos os meridianos

sê, que vais saber a exactidão do acontecimento

18
Ago07

entre nós

Lino Costa

entre nós, palavras

de um poema

que te lerei pel’aurora

e que receberás num sonho lindo

 

entre nós, desertos

de distâncias obtusas

mas amantes eternos

porque me lembro sempre

do teu cheiro doce de pêssego maduro

 

entre nós, aquele eterno amor

que trazemos na cantilena,

com a concertina de um beco fadista

p’la agastada Lisboa louca

 

entre nós, a açude seca

a despedida de Inverno

numa carta por escrever

ao céu que nos vê e consente

em silêncios de vento

 

entre nós, o quê?

algo que não sei, que não dei

um eco profundo

de um gesto agudo agora, entre nós

18
Ago07

...

Lino Costa

pareceu-me, a última vez que me amas-te

que me beijas-te, pareceu-me,

um silêncio quente

em parelhas de pissarras ao sol

porque senti um intenso

de despedida, vital, inevitável

 

pareceu-me, a nossa primeira vez

de mil palavras, resumidas ao poder

dos teus olhos, que me falaram do teu rosto

firme na expressão. Pareceu-me um limiar

de castas requintadas a caminho da barragem

 

que te pedi à sombra

depois da névoa que passa, ao sol da tarde

que tarda pra fim, pareceu-me

que te vi ontem num hoje que não sei

na outra margem, num sonho frio

 

amas-me ainda debaixo da figueira perfumada

pareceu-me que me beijas-te mais distante ainda

não me lembro a que cheiras

nem te sei nua. Pareceu-me displicência

acreditada… nem a que sabe a tua boca

 

que sinto sentia, nem sei eu

de todas as vezes que houve, a tua, condição

a minha parece-me tristeza

porque não te valho tudo, pareceu-me

nem te valho pouco, pareceu-me

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