loucura
Lisboa, 27 de Junho de 2013
suspirava com “ais” de menor
a rogar com o pensamento inteiro
que passasse por perto
ela e o seu cheiro,
a brotos de orvalho e de beijo
e a súplica perdeu-se
na imaculada imagem que ia
já distante, e o último “ai” soou
com aquele segredo dentro,
por dentro dos olhos seus
cantava-lhe a memória, em cantarolês
aquele nome, que não é confesso
cantava-lhe, o negro dos cabelos
pelas bebedeiras do vento que a seduz…
e seus olhos foram rodos em água
nascentes de mágoa, porque lhe cala o coração
quando as palavras querem ser o cair da chuva
ser soltas de verso, e poças de certeza
sem ser murmúrios da mente
e ser prazeres dela, que as sorve
ele, tem a palavra exacta
longe da ciência estudada
longe de frases feitas,
será num improviso sem abrigo
sem rima, que será? Loucura?
a paixão, que não sabe ser assistida,
dela, que não imagina o seu existir
nem do fado conjunto
que um dia será amor maior
sem que suspire, por ela, seu segredo
Lino Costa
In: Versejos Livres