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versejos livres

versejos livres

28
Jun13

loucura

Lino Costa

Lisboa, 27 de Junho de 2013

 

 

suspirava com “ais” de menor

a rogar com o pensamento inteiro

que passasse por perto

ela e o seu cheiro,

a brotos de orvalho e de beijo

 

e a súplica perdeu-se

na imaculada imagem que ia

já distante, e o último “ai” soou

com aquele segredo dentro,

por dentro dos olhos seus

 

cantava-lhe a memória, em cantarolês

aquele nome, que não é confesso

cantava-lhe, o negro dos cabelos

pelas bebedeiras do vento que a seduz…

e seus olhos foram rodos em água

 

nascentes de mágoa, porque lhe cala o coração

quando as palavras querem ser o cair da chuva

ser soltas de verso, e poças de certeza

sem ser murmúrios da mente

e ser prazeres dela, que as sorve

 

ele, tem a palavra exacta

longe da ciência estudada

longe de frases feitas,

será num improviso sem abrigo

sem rima, que será? Loucura?

 

a paixão, que não sabe ser assistida,

dela, que não imagina o seu existir

nem do fado conjunto

que um dia será amor maior

sem que suspire, por ela, seu segredo

 

 

Lino Costa

In: Versejos Livres

 
 
 
 
26
Jun13

maior

Lino Costa

Lisboa, 25 de Junho de 2013

 

 

fazes-me o fado

ser, ainda, nesta distância

que nos desune à noite

quando já não te dou um beijo

enquanto te precede a leveza d’um sono

 

menino peregrino

sou de ti caminho, trilho que te salva

em imagem quando choras à noite

durante os resumos dos teus tormentos

sou teu por sina, d’um modo inelutável

 

 

Lino Costa

In: Versejos Livres

25
Jun13

neurobravos

Lino Costa

Lisboa, 24 de Junho de 2013

 

este seio de silêncio

que me revolve medos

soa a morte d’almas

e a vale de fel, à mais negra magia

casa de rostos perdidos na opressão

 

o preto, finge que lê atento

a mãe sozinha esmaga migalhas

e há a rapariga que não se cala com o namorado

…e o resto... sou eu, e o resto

somos todos tempo amargo

que se espapassa sem pressa

nas paredes, nos olhos, nos papeis

nas mãos feitas de um cheio e de um nada

 

fica quase um quadro de lezíria

com cheiro a pântano

com corpos enterrados

nos jeitos cansados da espera

como figurantes nesta trama feita de erros

 

Lino Costa

In: Versejos Livres

20
Jun13

olhar-te, meu janeiro

Lino Costa

Lisboa, 20 de Junho de 2013

 

onde nasce o reino dos sentidos

seduzir-te, durante o amor, é um adereço

é um pináculo, no jogo de cumes

diante do caminho no paul

em neblina, a que me entregava por ti

 

seduzir-te, durante o amor, será redimir-me à fajã

abraçar-te o âmago, o fruto do peito

e dar-te à terra, à semente e à minha vida

pra que em ti craveje o instante imenso, intenso, uno

na tua pele, perfumada

 

 

Lino Costa

In: versejos livres

20
Jun13

leve querubim

Lino Costa

 

 

 

 

 

Lisboa, 20 de Junho de 2013

 

 

algo depois da pele

me redobra sentidos

afoga, os momentos de cinza…

alguma coisa de ti

sopra leves nas minhas memórias acesas

quando me calam os olhos

 

sou… esse jeito todo que gostas,

e o sorriso que tantas vezes faz ser o teu…

sou aquilo que não sei ser, sou sabor de vento

de marasmo grotesco

sim, sou…

quem às vezes te espanta o traço belo do rosto

 

quem toma este credo que não creio, e sou,

o desassossego das minhas certezas,

que só se convertem, por pronúncio,

com o modo doce da presença de ti,

que és esse algo de dentro,

e força pura, que levitas… querubim

 

 

Lino Costa

In: versejos livres

19
Jun13

.

Lino Costa
 
 

Lisboa, 19 de Julho de 2013

  

acordou-me

o tempo seco, na boca

pelos cantos o sonho, a pesar

a queimar os segundos, acordei…

 

corre em cansar,

o coração e o susto são pulos

dentro do unto de um pesadelo

sem a mais pequena acção

como eu, sem epitome

que ilumine razão e porquê(s)

e os suores imensos

com cheiro a angustia

 

acordei,

acorri à cama nua em tempestade

pelo escuro de ti, ausente

nem mão, nem palavra

nem chave ou soltura

no amanhã que seja…

acordei à hora que tudo me foge

 

silêncio…

a saliva expande-se

num lento entorpecer

à entrada quente de um medo… dormi

 

 

Lino Costa

In: Versejos Livres

16
Jun13

grey

Lino Costa
 

Lisboa, 16 de Junho de 2013

 

estremecida, a face limpa

do papel, foi papiro quase desfeito

com a história da torre do gigante, o distante,

 

escrita no gretar

d’uma sapiência, como que num despique

de partes desiguais,

 

será o futuro e o tanto de nada

do olhar por olhar,

do ser mentira o que (não) quero ver

 

e que não me emudeça, a boca

nem se castre o sentimento, o azul

ainda agora sou (in)condicional

 

não sou esgaço do tempo partido

ou jura esmerada desfeita

nem a demora imensa de um gerúndio

 

 

Lino Costa

In: Versejos Livres

11
Jun13

na girândola do castelo

Lino Costa

 

Lisboa, 11 de Junho de 2013

 

no galope do tempo

de braço dado à romaria

e às flores de papel, feitas de mim

intrometem-me bilhardeiras, as troças

e dançam, com os sopros do coreto, saudades minhas

dançam, como senis em cima dos corações apertados

das pedras mudas, lustrosas e negras

 

já farto, balbucia o limoeiro

que espreita p’las costas da muralha

um sorriso da noite, desigual

e não vê, tal como a multidão,

o vadio, o cão e a patifaria

ou o feitiço na fumaça da sardinha,

que embarriga o castelo, anfitrião

 

 

Lino Costa

In: versejos livres

11
Jun13

.

Lino Costa

Lisboa, 10 de Junho de 2013

 

 

 

rendem-se pedaços inteiros

à boca que não basta

 

e (quando) para o pensamento

trai a cegueira que (en)canta

como cometa esquivo, e sol que fica

e mendiga aconchego de noel

em afronta ao obtuso sarau amargo,

torpe sentido sem nexo

com pouco de mero

sem que seja a hora, a noite

 

…sim, um beijo casto

daqueles guardados no regaço…

 

antes do lema

quando se erguia um poema

do que ia ser o breu e a calmaria

e ia formar dentro do ludo da sedução

a ramalhar utopias, quase  utopias

presas ao barbante que amarra o sonho

retido no olhar que não conta, por crença de acontecer

 

 

Lino Costa

In: Versejos Livres

 

10
Jun13

densa hora de nada

Lino Costa

Lisboa, 10 de Junho de 2013

 

cala-se o fim do domingo

e a  vela acesa,

humedece o sabor ao silêncio,

encorpa nós e uma ternura

com o vento que nos crava a mãos,

em testemunha, a chama quieta,

tão serena  que não fez dança

que contradizia a eloquência dos teus olhos

quando feriam, luzidios, sentidos veros

 

rascunho, madrugada nobre

de que parte de ti exalas o teu perfume,

inebriante seiva?

mas palavras… nas palavras sobejas o que não sei

um desencontro, da procura que a custo

aceito, ser a espera, ser mais do que ser

em ti, labirinto meu, e aurora que não tardas

ou azul vespertino, meus dias d’agora

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