derramas sem pejo

nem medo

p’la bica da fonte

d’onde bebo, sôfrego

como se fosses um tempo que se perde

no instante louco desfeito

num então que te dei ao destino

tão de repente e igual a uma vida ser breve

sei-te ser monstruoso o dito

do que é o feito que não aceito

daquele que dizes ser direito rompante

como quem rasga a alma saturada

de esquiços e promessas de um fim

que me prendem à sede do acreditar

enquanto discípulo de um Baco qualquer

esse errático Deus que pecou toda a vida

Lisboa, 7 de Julho de 2015

Lino Costa

In: Versejos Livres

da fieira tantas vezes

se fez o gume do silêncio

e a mão gelada

em todos os beijos do toro do castanheiro

ao chão vadio evadido usado e vazio

como o fio do norte

foi o quase infinito do voo preso

ao papel de seda

que rema na corrente,

aos braços quentes do longe

mas na agonia, Maria,

no choro, Maria, no eixo da alma

mesmo que só, numa agrura do tormento

esse tom sempre foi a paz

a ecoar no remedeios inventados

que aproximou o sossego à hecatombe

do que foi tantas vezes não saber

respirar fundo e caminhar nos rodos da falta

cometida pela distância de ir,

na castração de simplesmente, ir,

na brenha densa, negra da noite

de partir como quem não pára

para ficar nas ameias

de onde tudo acaba e começa

como se fosse a esperança do rosicler

Lisboa, 02 de Julho de 2015

Lino Costa

In: Versejos Livres