antes da ausencia
em todos os cantos
da minha boca ardida,
sinto a falta amarga que acusas
sinto-te, perda sem medida
e eu passo a ser apenas uma dor
esqueço-me do tempo,
dos verbos e dos pretéritos que consigo ser
torno-me inquietamente vazio
ou um fruto sem sabor
coisa, que num passado fui verdade
por te amar, resguardar, olhar-te por ti apenas
esqueço-me do tempo e das coisas simples
esqueço-me de mim
em todos os cantos
da minha alma em curtume
rasgo as poucas coisas que tenho
e como ser que sou
não sei viver sem ti
afogo a mágoa
no baço horizonte de Julho
e nado nas vagas soltas da espera
a um rumo de nada
soleira a dentro de pedra fria
ante a tua ausência
ante o meu desmoronar
em frente ao tempo que não estás
em todos os cantos
de mim… servo confesso
a morte alastra-se como afogamento
e o que me move à sua fuga
é que um dia vais voltar a ser mais parte de mim
Lisboa, 24 de Junho de 2016
Lino Costa
In: Versejos Livres