19
Dez16
meu setembro
Lino Costa
cai-me na noite
como o vento
que varre a eira alvoraçado
chama-me p'lo nome
meu doce setembro, Mãe
Mãe, grande
...a água está quente
...o barbante enrolado
...a sopa fumega cansada, como tu
desamada, dorida...
chama-me da ladeira, de longe,
do canto do poço seco
do alto dessa voz morna
Mãe, deste tamanho ao meu sonho
e nascença a mim
para que verso fosse
e poema te escrevesse
na palma imensa da mão
com tantas palavras
quanto os degraus que subiste
d'onde estou
vou a ti no fiozinho da levada
p'ra que diste o alecrim cruzado
do teu portal e seja longe
até que eu chegue
e não arrefeça a água
Lisboa, 19 de Dezembro de 2016
In: Versejos Livres
Lino Costa