carta ao mundo
dá-se a esta luz escassa
e o mundo, tem a morte na sentença
o cão uiva em devassa
e faz mais escassos, ainda,
os cantos castos a que o homem não chega
e a mão esquece
o mundo caminha pra se esvanecer
e a luz dirige-se ao fim
a luz…, a luz,
a luz que tanto quero de mim
a luz, que fiz, a luz que diz...
o que serei? o que será?
e os dias vão
mais frios mais vazios
a semente tem cada vez menos de si
o vento só se cumpre em revolta
que fere os sentidos e dá saudade
da brisa que padece de extinta
e o mundo parte a nada
sem saber
se vida lhe promete outro destino
sem saber
que vozes vão chegar
que outros Bichos virão
quando este perece
como um triste dedilhar de piano
com que mão te faço novo?
Mundo,
que escavei pedra com pedra
que amo e amarei
e que herdas quem quero
num verde esperança do meu sonho
espera outro tanto
que a luz ainda se faz forte
e o homem se tem arrependido
fraco, cansado
Mundo assim, donde vim
ergue-te antes do fim
Lisboa, 26 de Julho de 2017
Lino Costa
In: Versejos Livres