...
não me tenhas tirano
porque não sou, não
não sou esse quadro que pintas
com mascarras de negro
e arranhos da tua raiva
insolente, mulher fria tão insana
carente imensamente
daquilo que tudo tanto te dou
nem sou essa pedra lascada
abandonada na estrada do descaminho
de piçarra abrilhantada
no meio de outra multidão gelada e dura
não me tenhas tirano
porque, assim, não sou não
um cruel, um rasgado papel
levado, como a folha, p’lo vento
sou a asa branca
que já viu este e o meu mundo
invertidos, vertidos com o sol e com rol
que razou a razia podre de uma maré de rio, vaza
inveja a feia inveja
de ti, mulher fraca, empobrecida
que nem a escondes deste teu tirano
nem da vida que te vê
não me tenhas por tirano
porque isso, não sou. não
Setúbal, 30 de Janeiro de 2007