engraxador
peguei com as mãos
num jornal gasto
e pegaram-me umas mãos
de vaidade e gasto
o senhor engraxador
que tinha um trono de muitos reis,
no atrium dos restaurantes
e as suas mãos gastas,
jornal sujo de mãos aos pares
mãos de pares, tantos, sujos
um sustento com ciência
de aprumos vaidades e gasto
e conversa e folhas gastas
e meias-botas a reluzir
tudo numa certeza daquela ciência
de aprumo, arranjo e tanta certeza
falta puxar o lustro
por aquelas mãos vaidosas cientistas e gastas
e com elas as folhas quase gastas
e os pés num asseio brilhante
deixei o jornal no levante
e vaidoso, e limpo
deixei o pagar e uma graça
sujou as moedas e parti
Almada, 06 de Janeiro de 2007