solfeja(dor)
interrompem-se com beijos
os acordes dos teus olhos
quando improvisas a (in)resoluta tua dor
dentro do coração grande
feito de claves sofridas
e todos os teus sons são agudos gemidos
na transe amarga, da escala,
da tarde que esbates na boca
tens turvo do falsete
p’la partitura que deixaste de ver
aquando do rumo que quase não tens,
até que a força de um dó piedoso
te interrompe o drama da peça
e te recompões te ajeitas na cadeira
que te atira ao chão
mesmo em cima do palco
em frente à plateia
que te espera à sombra da chacota
pra vaia longa até que fuja
na tremura das tuas pernas
verte esse desejo
na perfeição dos teus dedos
que dedilham uma certeza
sem que cometas o erro
de mal contar as sílabas que queres dizer
porque essas luzes que te encegueiram
vão aceder-se pouco
mesmo quando nem souberes o que diz a pauta
Lisboa, 09 de Outubro de 2015
Lino Costa
In: Versejos Livres